Citando Sema Tsien, escritor da China antiga, Mao Tsetung assinalou que embora
a morte colha a todos igualmente, a morte de alguns tem mais peso que o
monte Tai, enquanto que a de outras pesa menos que uma pena. Morrer pelos interesses do povo tem
mais peso que o monte Tai, mas empenhar-se ao serviço dos fascistas e
morrer pelos exploradores e opressores do povo pesa menos que uma pena (Servir ao povo, 8 de setembro de 1944).
Na
noite de 26 de agosto, cumpriu-se um mês do falecimento da companheira
Sandra Lima. Em seus funerais, no dia 27 de julho passado, a intervenção
da Frente Revolucionaria de Defesa dos Direitos do Povo(FRDDP),
organização que Sandra foi uma das fundadoras e dirigentes, impactou
todos profundamente. Em suas palavras finais, o dirigente da FRDDP
conclamou todos “aqueles que conviveram e que a conheceram, que a
conhecessem mais, conhecessem mais as suas ideias, que conhecessem mais
da sua causa, que conhecessem mais essa grande mulher”.
À
sua inolvidável memória e trajetória de militante revolucionária
dedicamos as nossas duas últimas edições e também a atual. Tivemos a
oportunidade de desfrutar da casualidade histórica de o AND —
desde seu surgimento e durante seus primeiros 15 anos — poder contar
com a companheira como colaboradora e propagandista, e de poder, com
ela, participar de debates e lutas, além de absorver um pouco de sua
experiência acumulada ao longo de mais de quatro décadas dedicadas à
luta dos povos brasileiro e de todos os países.
E
foi com grande honra que recebemos o convite para o ato em sua
homenagem organizado pelo Movimento Feminino Popular (MFP), realizado no
último dia 26 de agosto, em Belo Horizonte (MG).
No
salão repleto da Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves, a bandeira
vermelha do MFP se destacava sobre a mesa ornamentada com flores
vermelhas e amarelas. Faixas com consignas revolucionárias e o vai e vem
de jovens vestidas de camisetas brancas e com lenços vermelhos
estampados com a sigla do movimento — ativistas da juventude forjada por
Sandra Lima — iam e vinham com passos rápidos e decididos nos últimos
preparativos para o ato.
As
organizações populares, democráticas e revolucionárias nas quais e
junto das quais Sandra lutou a maior parte de sua trajetória estavam
presentes à mesa, cuja Presidência de Honra foi ocupada pela Liga
Operária. Além das diversas organizações presentes, lá estavam pessoas
que conviveram e lutaram com a companheira, familiares e amigos.
Operários, camponeses, professores, estudantes e famílias proletárias da
Vila Corumbiara e da Vila Bandeira Vermelha — ocupações urbanas de Belo
Horizonte e Região Metropolitana, cujas batalhas por moradia contaram
com a intensa e decisiva atuação de Sandra Lima em seu apoio, propaganda
e, sobretudo, mobilização, politização e organização das mulheres
nessas lutas.
Foram citadas as mensagens enviadas por diversas organizações de outros países em honra à memória de Sandra Lima como o blog Dazibao Rojo (Estado espanhol), Movimento Feminista Proletário Revolucionário (Itália), Comitê de Redação do Periódico El Pueblo (Chile),
Associação de Nova Democracia (Alemanha), Frente Revolucionária do Povo
(Equador), entre tantas outras enviadas por companheiros e amigos.
O hino dos trabalhadores em todo o mundo, A Internacional, foi cantado de pé, solenemente.
A
Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo fez um
pronunciamento resgatando a trajetória da companheira, desde a sua
infância no interior de Minas Gerais e sua forja como destacada
militante revolucionária e dirigente do Movimento Feminino Popular. Em
cada marco da trajetória de Sandra Lima, ativistas recitaram poemas de
sua autoria que revelavam toda a sua inquietude pulsante, indignação e
firme convicção na necessidade de uma transformação radical da
sociedade. Foi destacado seu otimismo, sua confiança nas massas e em sua
organização, sua conduta firme no combate ao oportunismo de forma
indissociável do combate ao imperialismo e toda a reação. A
combatividade e firmeza com que sempre enfrentou os inimigos de classe e
os problemas de saúde que fustigaram seu corpo durante décadas sem
fazer vergar sua decisão revolucionária. A solidez ideológica da
dirigente revolucionária que, incansavelmente, fustigou e conclamou as
companheiras a combaterem a auto-subestimação, a se formarem como
quadros ideológicos e políticos, a servirem sem reservas ao povo e as
suas lutas.
Ativistas
do MFP fizeram uma apresentação especial do hino do Movimento Feminino
Popular portando a bandeira do movimento e uma foto de Sandra Lima. Elas
expressaram em sua organização e evolução compacta a organização
necessária para as massas destruírem o velho e construírem o novo.
Um
grupo cultural apresentou, ao longo da homenagem, canções populares e
revolucionárias, em homenagem a companheira que sempre foi uma grande
entusiasta e admiradora da cultura popular-revolucionária em todas as
suas expressões.
Também
foi exibido um belo vídeo com imagens da atuação de Sandra Lima em
lutas como a pela punição dos criminosos militares e civis, mandantes e executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados do
regime militar fascista; sua participação em reuniões com mulheres
trabalhadoras na cidade e no campo e seu papel destacado como fundadora e
formuladora da linha revolucionária do Movimento Feminino Popular; sua
atuação junto às famílias proletárias em luta por moradia e outros
direitos. As imagens revelaram a dedicada mãe e avó revolucionária e a
militante que, paciente e inquieta, consagrou-se como poucos a educar as
novas gerações no fogo da luta de classes e na ideologia científica do
proletariado.
Essa
última característica, especialmente, ficou marcada na fala de uma
jovem camponesa. Vinda especialmente de Pernambuco para a homenagem, com
seu forte acento nordestino e com simplicidade, ela disse não ter
conhecido pessoalmente Sandra Lima, mas muito ouvira sobre a dirigente.
Como ativista do MFP, expressando a mesma firmeza de Sandra Lima, ao
falar da dirigente, primeiramente tímida, mas encorajando palavra após
palavra, afirmou: “A firmeza com que as companheiras gritam nas
reuniões, Despertar a fúria revolucionária da mulher!, é isso que a companheira Sandra Lima nos ensinou e vamos levar conosco. É isso que vamos fazer!”.
Camponesas
de diversas regiões do país, dirigentes regionais e ativistas do MFP
foram à frente e destacaram a passagem marcante de Sandra Lima em suas
áreas, para realizar reuniões e encontros que deixaram lembranças e
exemplos. Reafirmaram perante os presentes o compromisso de continuar o
trabalho da dirigente.
À
convocação de uma jovem militante, as ativistas do MFP, portando
braçadeiras e lenços vermelhos, perfilaram-se. Ao longo de sua
construção, o Movimento Feminino Popular — a exemplo de outras
organizações classistas do movimento revolucionário proletário — adotou
seu Juramento de Honra. Nessa noite, em homenagem a sua fundadora, o MFP
fez pela primeira vez o seu, repetido em uníssono pelas ativistas de
punhos erguidos.
Os acordes da canção revolucionária italiana Bella Ciao se
elevaram no salão: “Numa manhã de sol radiante, ó Bella Ciao, Bella
Ciao, Bella Ciao! Numa manhã de sol radiante, terei nas mãos o opressor!
É meu desejo seguir lutando...”.
Encerrando
o vibrante e emocionante ato, todos os camponeses presentes cantaram o
Hino da Revolução Agrária e todos repetiram seu refrão com entusiasmo e
imbuídos do exemplo combativo da grande revolucionária Sandra Lima: “Já
chega de tanto sofrer, já chega de tanto esperar. A luta vai ser tão
difícil, por mais que demore vamos triunfar!”.
O
materialismo dialético e histórico nos ensina que uma vez que as massas
aprendam a ideologia científica do proletariado, esta se converte em
uma força material capaz de transformar o mundo, uma força sob cujo
impacto toda a velha superestrutura e ideologia é posta abaixo. A
presença impactante de Sandra Lima se fez sentir naquela noite de forma
intensa expressada por aquelas e aqueles que empunham suas bandeiras de
luta, seus continuadores.
“Companheira Sandra Lima: presente na luta!”
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