MORTE AO RACISMO!
VIVA A LUTA DO POVO PRETO!
O racismo, opressão vivida por mais da metade da população do Brasil, tem suas raízes fincadas em mais de cinco séculos de opressão e exploração na qual está assentada a formação da nossa sociedade, fundada no colonialismo, na escravidão e semifeudalidade. A permanência desse resquício feudal na estrutura da sociedade até os dias atuais é sustentação ideologica reacionária para a exploração de grande contingente de massas populares que são submetidas aos piores salários, condições de trabalho, de moradia e humilhações cotidianas. Serve portanto a dominação do imperialismo, do latifúndio e da grande burguesia sobre o conjunto do povo e deve ser varrido pela revolução democrática pendente e atrasada em nosso país.
Não será por meio de promessas eleitorais, ou de reformas cosméticas de embelezamento do sistema capitalista, como o engodo da representatividade ou de um suposto empoderamento individual que apregoa que a vitória contra o racismo se dá com o enriquecimento de algumas pessoas, fragmentando a classe e enfraquecendo a luta dos oprimidos. A luta antirracista pode triunfar e triunfará profundamente vinculada a luta das classes trabalhadoras, numa Grande Revolução de Nova Democracia pela derrubada da velha ordem e pela construção de uma nova economia, nova política e nova cultura.
Dandara dos Palmares
Dandara do Palmares foi uma liderança importante na luta contra o escravismo colonial que conformava a situação do Brasil em meados do século XVIII. Dandara foi esposa de Zumbi dos Palmares, histórica liderança do Quilombo dos Palmares, que hoje se compreende enquanto parte do município de União dos Palmares em Alagoas. Dandara não era meramente esposa de Zumbi, mas uma liderança importante, tanto militar quanto politicamente do quilombo, sendo imprescindível na elaboração de estratégias e dirigindo batalhas importantes ao lado de homens e mulheres quilombolas na luta por libertar escravos e garantir a segurança do quilombo.
Dandara é expressão das mulheres negras que foram escravizadas que se recusaram a aceitar tal condição e ousaram desafiar e lutar contra o sistema de exploração e opressão vigente na época. Dandara, ao lado de Zumbi, foi contra estabelecer um acordo de paz com o governo de Pernambuco, entendendo que a conciliação dos quilombolas com o governo colonial significaria trair a luta pela liberdade. Ao ser presa, preferiu cometer suicídio a retornar a condição de escrava.
Tereza de Benguela
Nascida em 1700 e trazida para o Brasil como escrava, Tereza de Benguela foi uma liderança importante do maior quilombo do que hoje se compreende o estado do Mato-Grosso, o Quilombo do Piolho. Sob sua liderança política e militar, o quilombo, que integrava negros e indígenas libertados da condição de escravos, resistiu por cerca de duas décadas, até a sua destruição pelas forças de Luís Pinto de Sousa Coutinho. Tereza resistiu bravamente e liderou a resistência do quilombo até o fim. Como forma de humilha-la, arrancaram-lhe a cabeça e expuseram em um poste onde todos pudessem ver. Tereza segue sendo hoje expressão de fibra das mulheres lutadoras.
Maria Firmina dos Reis
Nascida no Maranhão em 11 de março de 1822, Maria Firmina dos Reis é considerada a primeira escritora negra do Brasil e da América Latina. Ao ser aprovada no concurso para professora, recusou-se a andar em um palanque desfilando pela cidade de São Luís nas costas de escravos. Na ocasião, Firmina teria afirmado que "escravos não eram bichos para levar pessoas montadas neles. Em 1859, publicou seu romance intitulado “Úrsula”, sob pseudônimo de “Uma Maranhense”, considerado o primeiro livro abolicionista do Brasil. Devido ao machismo, a autora publicava seus textos sem assinar seu nome verdadeiro, mas mesmo assim isso não a impediu de que expusesse suas ideias contra a escravidão. Maria Firmina participou ativamente da vida intelectual maranhense, publicando livros, artigos em jornais e revistas de cunho abolicionista, além de atuar como professora, musicista e criadora da primeira escola mista do Brasil, mesmo causando descontentamento na sociedade.
Luisa Mahin
Nascida na Costa da Mina, no continente africano, no início do século XIX, como membro do povo maí e trazida para o Brasil como escrava, Luísa Mahin é reconhecida pelo destaque que teve nas articulações e levantes de escravos contra o sistema colonial, sobretudo a Revolta dos Malês em meados do século XIX. Mãe do poeta e abolicionista Luís Gama, primeiro advogado negro do Brasil a ganhar uma causa em defesa de um negro escravizado, Luísa Mahin utilizou da escrita e da leitura para fazer circular as ideais de revolta pelos subterrâneos da liberdade em Salvador, até que tais ideais chegassem a escravos e não escravos revolucionários. Como uma das principais articuladoras das revoltas populares contra o sistema vigente, Luísa cedia sua casa para que as articulações políticas das revoltas fossem realizadas de maneira clandestina. O fim da sua vida, no entanto, não é conhecido, mas seu legado enquanto grande liderança contra o sistema escravista colonial marca a história de nosso país.
Tia Ciata
Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, nasceu em 13 de janeiro de 1854 em Santo Amaro da Purificação, na Bahia. Aos 22 anos, se mudou para o Rio de Janeiro, nas levas de migrantes que procuravam condições melhores de vida. Deixada sozinha para criar sua filha, passou a trabalhar como quituteira no centro do Rio de Janeiro. Através de suas vestimentas e comidas, expressa sua religiosidade, que era proibida na época. Tia Ciata se destaca por, durante os tempos de repressão às expressões artísticas consideradas "subversivas" como, as rodas de pagode, ceder o quintal de sua casa para a realização de saraus populares que fizeram surgir o samba carioca.
Laudelina de Campos Melo
Laudelina de Campos Melo, nascida em 12 de outubro de 1904, em Poços de Caldas - MG, foi obrigada a trabalhar enquanto empregada doméstica aos 7 anos de idade, abandonando os estudos para cuidar dos irmãos e ajudar a mãe, pois seu pai falecera. Durante o Estado Novo, Laudelina se filiou ao Partido Comunista do Brasil e passou a integrar-se cada vez mais na luta por direitos democráticos, contra a discriminação racial e principalmente integrando a luta dos trabalhadores domésticos, culminando na formação da primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do país.
A luta e legado de Laudelina ao longo das décadas seguintes fez com que a categoria dos empregados domésticos conquistasse direitos e reconhecimento importantes. Laudelina faleceu, aos 81 anos, em 1991, em Campinas, após anos de luta intensa.
Helenira Resende
Nascida em Cerqueira César, em São Paulo, em 19 de janeiro 1944, Helenira Resende foi militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e integrante da Guerrilha do Araguaia durante o regime militar. Iniciou sua militância no movimento estudantil e chegou a se destacar enquanto líder estudantil e vice-presidente da UNE. Cursou Letras e Filosofia na USP. Foi presa em maio de 1968, no momento em que convocava colegas para uma manifestação na capital paulista. Ainda naquele ano de fortes mobilizações estudantis, foi presa novamente como delegada do 30º Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), e levada para o Presídio Tiradentes. Depois, foi transferida para o Dops, onde foi jurada de morte pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Helenira foi solta por força de um habeas corpus, pouco antes da promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5). Após ser solta, passou a clandestinidade e militou em diversas áreas do país, integrando a luta armada. No dia 29 de setembro de 1972, Helenira acabou sendo ferida num tiroteio e metralhada nas pernas, numa emboscada feita por fuzileiros navais. Recusou-se a entregar a localização de seus companheiros aos militares, e acabou sendo torturada e morta e seus restos mortais nunca foram encontrados. Helenira é símbolo da juventude pela sua bravura em combate e abnegação na luta contra o regime militar.
Carolina de Jesus
Natural de Sacramento, Minas Gerais, Carolina Maria de Jesus nasceu em 14 de março de 1914. De origem muito humilde, neta de escravos e filha de uma lavadeira, desde criança manifestava o desejo de aprender a ler e escrever. Aos 7 anos de idade, passou a frequentar a escola, mas após cursar a segunda série do primário, teve de abandonar a escola, pois sua mãe não tinha condições de prover para ela e seus 7 irmãos. Sempre passando dificuldades, fome, frio e sem lugar fixo para morar, Carolina de Jesus passou parte da infância morando em diversas cidades do interior de São Paulo. Dizem que por sua rebeldia natural, não se adaptou ao trabalho de empregada doméstica quando chegou a São Paulo em 1947. Grávida, chegou a morar na rua por não concederem trabalho à mulheres grávidas na época. Foi assim que chegou à favela do Canindé, fruto de uma política higienista do governador de São Paulo à época, Adhemar de Barros.
Construiu seu próprio barraco e criou lá seus filhos. Carolina dizia que nenhum homem entenderia sua necessidade literária, referindo-se aos pais de seus filhos que a abandonara para criá-los sozinha, pois estava sempre buscando escrever e ler. Nos anos de 1960, Carolina de Jesus lançou seu maior sucesso literário O Quarto de Despejo, no qual conseguiu certa ascensão social e prestígio. Chegou a lançar um LP com suas músicas autorais. Entretanto, seus outros livros não tiveram o mesmo destaque e Carolina teve de voltar a catar papel para sobreviver. Carolina de Jesus morreu vivendo de maneira humilde em 13 de fevereiro de 1977, com 63 anos, em Parelheiros, lançada à invisibilidade e ao esquecimento pelo mercado editorial.
Marli Pereira Soares
Marli Pereira Soares, ou Marli Coragem como era conhecida, nasceu no Rio de Janeiro em 25 de outubro de 1954. Trabalhou como empregada doméstica e aos 12 anos de idade, viu a favela que crescera ser alvo de um incêndio criminoso. Nos anos de 1979, durante o regime militar, presenciou uma invasão das tropas da polícia militar à sua casa, que resultou na execução de seu irmão, Paulo Pereira Soares. Marli chegou a ir na 20ª delegacia de polícia, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde reconheceu os assassino de seu irmão, que nunca foram preso ou punidos pelo crime que cometeram.
A partir deste fato, Marli passou a denunciar os crimes do velho estado, sob o regime militar e também após a falsa "redemocratização". Marli se tornou uma firme ativista da luta contra os grupos de extermínio e contra a impunidade e chegou a receber ameaças por não se calar. 14 anos após o vil assassinato de seu irmão, Marli viu o filho de apenas 15 anos, Sandro, ser morto. Mesmo diante da dor do luto, Marli o transformou em forças para luta e lutou a vida inteira por justiça.
Conceição Evaristo
Nascida em Belo Horizonte, em 29 de novembro de 1946, Maria Conceição Evaristo é uma grande expoente da literatura brasileira, sobretudo porque aborda em suas obras reflexões e denúncias sobre a desigualdade social e racial, além de escrever sobre a condição das mulheres negras no Brasil. Segunda de nove filhos, teve a infância e adolescência marcadas pela miséria. Trabalhou como empregada doméstica ao mesmo tempo em que se dedicava aos estudos, aspirando ser professora. Conceição concluiu o curso normal, aos 25 anos e mudou-se para o Rio de Janeiro para cursar Letras na UFRJ, formando-se em 1990, mesmo ano que lançou sua primeira obra literária intitulada "Cadernos Negros". Conceição adquiriu título de mestre em literatura pela PUC-Rio e de doutora pela UFF, além de ter lecionado em diversas escolas e universidades. Conceição Evaristo é uma das principais expressões literárias brasileiras da contemporaneidade.
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