Faleceu aos 52 anos, na noite da última quarta-feira, 08 de dezembro de 2021, nosso companheiro Pelé, o camponês nascido na Bahia José Fonseca de Araújo. Ele sofria de diabetes e problemas cardíacos. Com o apoio do Socorro Popular já havia feito, há alguns anos, uma cirurgia que lhe salvou em uma situação crítica. Difícil para quem o conhecia imaginar que lutava contra tantas adversidades de saúde. Em qualquer hora, em qualquer lugar, sob qualquer tempo, dormindo sob um barraco de lona ou em algum lugar um pouco melhor, onde as massas clamassem o apoio da Liga na secular luta pela terra o Pelé estava.
Alegre, otimista, apontando um caminho, fazendo reuniões, puxando palavras de ordem, animando os desanimados, confortando e acolhendo aqueles com mais dificuldades, Pelé sabia identificar o que era uma contradição no seio do povo de uma contradição entre o povo e seus inimigos. Se uma ou outra vez, por seu bom coração, errou na mão, nunca se furtou de analisar o problema com humildade. Aliás, humildade era o que sobrava àquele “homenzarrão” fisicamente grande, voz segura, corajoso, que sempre cobrava dos companheiros, em nossas avaliações, que falassem olhando nos olhos das massas.
Pelé não se intimidava em nenhuma situação. Nas incontáveis vezes em que, atendendo aos camponeses, participava de audiências em órgãos públicos, colocava em seus devidos lugares as “autoridades” escaladas para ludibriar, amaciar ou intimidar as massas. Por isso em uma ocasião, no Pará, o Ouvidor dos latifundiários Gersino José Filho fez questão de identifica-lo. Não foi uma brincadeira, era para avisar aos latifundiários, policiais e pistoleiros, o perigo que representava para eles aquele “Negão” da LIGA junto com as massas naquela região. E por quantas regiões o Pelé passou nesse Brasil... Sem nunca esquecer Rondônia, onde começou.
Pelé começou jovem na luta pela terra. Segundo ele, com 16 anos já atuava. Apoiou a heroica tomada e resistência em Santa Elina, Corumbiara, em 1995. Rompendo com o oportunismo, participou da fundação do Movimento Camponês Corumbiara, MCC. Teve participação importante na denúncia dos desvios da direção do MCC pois, em que pese a compreensão elevada da luta pela terra do MCC, ainda se mantinham em alguns dirigentes resquícios de práticas e métodos oportunistas herdados da organização anterior. Nesse momento crucial na história do movimento camponês brasileiro, irrigado pelo generoso sangue da heroica resistência camponesa de Santa Elina, Pelé se alinhou à necessidade de uma ruptura radical contra todo o velho. Em uma luta encaniçada, violenta, junto com as massas, esta ruptura abriu a fórceps o espaço para o NOSSO CAMINHO, que forjou as Ligas de Camponeses Pobres, que a seguir se organizaram em todo o Brasil. Pelé é fundador da LCP de Rondônia e Amazônia Ocidental, e participou por muitos anos da Comissão Nacional das LCP’s.
Pelé foi perseguido e atacado por “guaxebas”, sofreu atentados e, por pelo menos duas vezes, foi atingido por tiros. Pelé foi preso várias vezes, a mando do latifúndio, e logo solto pela mobilização de massas levada a cabo pela Liga. Pari passu à perseguição incansável, o oportunismo tentou cooptar Pelé com o canto da sereia da farsa eleitoral. Com uma dura luta de crítica e autocrítica, o companheiro superou este período e uma vez mais jurou pela bandeira da LCP e pela Revolução Agrária.
E aceitou e executou tarefas em todas as regiões do país levando a bandeira e a palavra da Liga, no momento mais difícil da luta entre o caminho revolucionário e o caminho oportunista no movimento camponês. E por onde passou conquistou admiração, respeito e carinho das massas. E o ódio de nossos inimigos.
Pelé participou de incontáveis tomadas de terras, fechamento de estradas, congressos, reuniões, audiências, etc. Defendeu a aliança operário-camponesa e a Revolução Agrária. Diversas vezes concedeu importantes entrevistas para A NOVA DEMOCRACIA, imprensa que ele defendia com unhas e dentes. Era um entusiasta do Socorro Popular. Foi um dos representantes da LCP junto à juventude combatente rebelada em 2013 e 2014, no auge das mobilizações. Participou de encontros internacionais de advogados e defensores do direito do povo lutar por seus direitos, junto com o CEBRASPO e a ABRAPO. E recentemente comandou a retomada da Fazenda Santa Lúcia, uma semana após o famigerado Massacre de PAU D`ARCO, no Pará, em 2017.
Pelé nos deixa em um momento gravíssimo em que, sob uma brutal repressão, o NOSSO CAMINHO brilha como o único para o movimento camponês brasileiro. Não podemos deixar de registrar nossa indignação pela forma como se deu sua morte. Pelé foi internado na terça-feira à noite, e teve alta na manhã de quarta. No final da tarde de quarta, dia 08, foi internado de novo, e poucas horas depois morreu. Será que tinha condições de ter sido liberado, ou o foi pela absoluta falta de condições desse sistema de saúde que chamam “público”, com o qual essa canalha exploradora só se preocupa para fazer demagogia em tempos de pandemia?
Ao companheiro Pelé; aos familiares que abraçou nos últimos anos de sua vida, sua “pequena grande” companheira e os filhos que adotou como seus, que sempre o respeitaram, admiraram e apoiaram em sua decisão de lutar, lutar e lutar; a seus preceptores; às milhares de massas e companheiros que vão chorar sua partida e homenageá-lo, como o farão milhares de massas camponesas no amanhã próximo: vamos seguir empunhando, cada vez mais alto, nossas bandeiras vermelhas da Revolução Agrária; vamos seguir fortalecendo cada vez mais a aliança operário-camponesa; vamos espalhar milhões de cartilhas “O NOSSO CAMINHO” para forjar os lutadores que batem como nunca em nossa humilde porta. Vamos vencer, Pelé. Essa vitória também será sua.
Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres, 09 de dezembro de 2021
Assista o vídeo: I Encontro da FIPRJ - depoimento de Pelé, militante da LCP (Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia).
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