A
Revolução de Outubro de 1917 na Rússia estremeceu o mundo, abrindo uma
Nova Era na história da Humanidade. Entre os grandes abalos que provocou
deu a conhecer ao mundo a figura de um homem simples, de baixa
estatura, mirada aguda e voz enérgica, o chefe do Partido Comunista da
Rússia (bolchevique) e da revolução Vladimir Ilitch Ulianov, mais
conhecido pela alcunha de Lenin. Mas para a feroz polícia política do
czarismo, a Okrana, não significou novidade alguma, já que por longos
anos tivera o revolucionário como o mais procurado. Tampouco foi para os
chefes do oportunismo (mencheviques e socialistas-revolucionários) que
com a revolução democrática de fevereiro de 1917, investiram-se de novos
representantes da burguesia e do imperialismo à cabeça do Governo
Provisório e que após as greves e manifestações operárias armadas de
julho daquele ano lançaram seus agentes numa frenética perseguição ao
líder bolchevique.
Mas se não
bastaram suas façanhas que culminaram no Grande Outubro, os dias que se
seguiram ao estremecedor acontecimento se encarregaram de revelar a todo
o mundo e por completo a dimensão de um chefe da classe mais
revolucionária da história, o proletariado, quando este toma o poder e
começa a erigir seu Estado. Os dramáticos e tão curtos 6 anos e dois
meses que Lenin esteve à frente do primeiro Estado proletário socialista
(outubro de 1917 a janeiro de 1924), foram demasiados e suficientes
para deixar patente sua estatura de político com P maiúsculo, de grande
chefe internacional da classe operária e de gigante entre gigantes do
pensamento e ação.
Diante do
aprofundamento sem par da crise de todo o sistema capitalista – que para
sua conjura exige novos planos e novas máscaras para sustentar seu
domínio político –, os imperialistas manejam com frenesi as mais
potentes máquinas de propaganda (marketing) que a história já conheceu
na orquestração de promover a grandes estadistas e líderes mundiais
gente como Obama, Luiz Inácio, et caterva.
À
sombra da figura ciclópica de Lenin, no pântano da mediocridade, em sua
insignificância e dimensão minúscula, sumidades em coisa alguma, as
figuras dos novos fantoches do imperialismo apenas medram.
Que brutal diferença! Colosso e pigmeus!
A TRAJETÓRIA E OBRA DO GRANDE COMUNISTA
Quadro de V. Serov: Mensageiros visitam Lenin
Vladimir
Ilitch Ulianov nasceu em 22 (9) de abril de 1870. Aquele que viria a
ser conhecido como Lenin pelo proletariado e povos revolucionários do
mundo todo passou a infância e início da juventude em sua cidade natal,
Simbirsk (atual Ulianovsk). Filho de um inspetor escolar, Volodia (seu
apelido de infância) era um estudante aplicado e leitor compulsivo.
Perde o pai em 1886 e no ano seguinte seu irmão mais velho, Alexandre, é
executado por liderar um atentado contra o czar Alexandre III. Todos os
cinco irmãos de Lenin iriam se dedicar à luta contra o czarismo russo.
Ainda
em 1887, Lenin é expulso da faculdade de Kazan por participar de
atividades políticas revolucionárias. Em 1892 seria readmitido como
aluno externo (sem permissão para frequentar as aulas) e em poucos meses
é aprovado, em 1º lugar, nos exames de quatro anos de curso.
A FORJA DE UM REVOLUCIONÁRIO
Muda-se
para São Petersburgo no ano seguinte, quando assume o marxismo, começa a
escrever seus primeiros panfletos e a fazer propaganda revolucionária
para o proletariado. Se aproxima do grupo Libertação do Trabalho,
liderado por Plekhanov, que introduziu o marxismo na Rússia. Já
envolvido em intensa luta ideológica contra os falsos revolucionários,
Lenin funda em 1895 a Liga da Luta para a Libertação da Classe Operária,
junto com Martov. Neste mesmo ano é preso por ter feito agitações
políticas entre os operários. Sua pena: três anos na Sibéria. Lenin
dedica-se intensamente este período para escrever sua primeira grande
obra, O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia (publicado em 1899) e
outros textos. No degredo oficializa a união com sua companheira
Nadezhda Konstantinova Krupskaya, a quem havia conhecido em 1893 e o
acompanharia até o fim da vida.
Influenciado
pelas grandes greves operárias de meados da década de 1890, Lenin se
colocaria o problema do processo revolucionário e a questão do partido
passa a ganhar principalidade em sua obra teórica. A principal luta que
se delineava era contra o economicismo e o espontaneísmo– formas de
oportunismo no movimento operário russo – e principais obstáculos à
organização da vanguarda proletária. Lenin acompanharia da Sibéria o
congresso de fundação do Partido Operário Social-Democrata Russo*, em 1898.
Cumprida
sua pena, Lenin se dirige à Suíça, onde funda e dirige o jornal Iskra,
que passa a porta-voz dos social-democratas (marxistas) russos e que era
enviado periodicamente aos operários e camponeses de sua terra natal.
Após a polarização em duas frações no partido: bolchevique (maioria) e
menchevique (minoria), a direçãodo Iskra seria usurpada por Trotsky,
Plekhanov e mencheviques, em 1903. Em 1902 publica Que fazer?,
no qual fundamenta sua concepção da necessidade de um partido de novo
tipo capaz de dirijir a luta política do proletariado até a tomada
revolucionária do poder. Era uma contundente crítica ao economicismo dos
que preconizavam a principalidade da luta econômica do proletariado e
desprezavam o papel do partido da classe, da teoria revolucionária e da
luta política.
Em 1903, no II Congresso do POSDR, Lenin lidera a fração vermelha bolchevique na luta contra o oportunismo dos mencheviques.
Lenin discursa em 5 de maio de 1920
1904:
a Rússia czarista entra em guerra contra o Japão. A precária situação
da classe operária e dos camponeses russos, aliada à humilhante derrota
para o Japão, acelera a elevação da consciência das massas. A autocracia
estimula, através de sua polícia secreta, Okhrana, (em especial seu
agente Zubatov), a formação de sindicatos ligados ao Estado e à Igreja
Ortodoxa, para apaziguar o ímpeto revoltoso. Os social-democratas passam
a atuar nas organizações de massas que vão surgindo.
JORNADAS REVOLUCIONÁRIAS
Em
9 de janeiro de 1905, em São Petersburgo, uma manifestação pacífica de
milhares de operários, liderados pelo padre Gapon, pretendia entregar um
documento com as reivindicações dos operários ao czar. O "paizinho" dos
pobres ordena então que as tropas abram fogo contra o povo,
assassinando centenas e ferindo milhares de operários. Graças à
consequente atuação dos social-democratas, as massas romperam com as
ilusões com o Estado e suas instituições e o que se seguiu foi uma
grande insurreição popular contra o czar. Em outubro, a maior greve da
história rússa parou o país. Em dezembro, o povo novamente se insurgiu,
desta vez em Moscou, já com a finalidade de derrubar a autocracia. Nesse
período começam a aparecer os soviets, órgãos criados pelos prórios
trabalhadores e nos quais os bolcheviques foram instruídos por Lenin a
atuar, transformando-os no embrião de um poder popular. A repressão foi
brutal e milhares de revolucionários foram massacrados pelas tropas
czaristas em quase dois anos de combates.
No
calor das jornadas revolucionárias de 1905, em abril, os bolcheviques
se reuniram no 3º Congresso do POSDR, definindo o papel dirigente do
proletariado na revolução democrática e tendo o campesinato como seu
principal aliado. Os mencheviques realizaram uma conferência à parte e
aprofundaram o abismo que os separava dos bolcheviques, definindo a
burguesia liberal como dirigente da revolução. Essas e outras
contradições importantes foram expostas por Lenin em sua obra Duas táticas da social-democracia na revolução democrática.
Os
congressos de 1906 e 1907 do POSDR mostram uma crise na
social-democracia. Uma nova unificação entre bolcheviques e mencheviques
não dura muito e os prórios bolcheviques conhecem o fracionamento.
Alguns, como Bogdanov e Lunatcharski, pretendem mesclar o materialismo
dialético com filosofias de moda na época, na prática negando o
marxismo. Materialismo e empiriocriticismo surge
então em 1908, combatendo o abatimento revolucionário, bem como o
reforçamento do idealismo e do misticismo, na esteira do terror policial
czarista.
RECONSTITUINDO O PARTIDO
Neste
período, setores à direita do POSDR, notadamente os mencheviques,
defendem a liquidação do partido e a capitulação às forças da
autocracia. Dirigidos por Lenin, os bolcheviques persistem na construção
do partido revolucionário clandestino e estabelecem uma tática
flexível, aliando o trabalho legal e ilegal. Mais tarde, em 1912, quando
do novo ascenso revolucionário, os bolcheviques logram realizar a
Conferência do Partido em Praga, na Tchecoslováquia. Considerando que a
luta com as frações oportunistas, mencheviques e outras, no marco de uma
mesma organização, havia se esgotado, Lenin, partindo do entendimento
de que no desenvolvimento do partido revolucionário do proletariado
surgem frações que expressam linhas divergentes e que, chegado a
determinado momento, a fração que sustenta a linha vermelha proletária
tem que assumir a reconstituição do partido, conclui que os bolcheviques
devem se estabelecer enquanto o partido revolucionário do proletariado,
separando-se orgânicamente das frações oportunistas. Foi criado o
jornal Pravda.
Nesses
anos, a passagem do capitalismo de sua fase de livre concorrência à
superior dos monopólios já se completara e com isto as contradições no
seio desses monopólios e entre as potências ganharam novo vulto e
significado, o da guerra como meio de resolvê-las. Os acontecimentos
apontavam para num futuro breve um conflito de proporções ainda não
conhecidas, a guerra mundial pela partilha do mundo entre as maiores
potências. A política central dos governos das potências imperialistas
passa à de preparação para a guerra.
Na
II Internacional, com Bernstein e Kautski à cabeça, a traição à classe
operária ganha força na forma do social-chovinismo, como a linha de
aprovação no parlamento dos créditos de guerra, etc. Bernstein
propugnava que o movimento é tudo, o objetivo final é nada. Outra de
suas idéias revisionistas, defendida também por Kautski, é a teoria das
forças produtivas, segundo a qual o socialismo se produzirá naturalmente
se o capitalismo se desenvolver plenamente primeiro e que as forças
produtivas se tenham desenvolvido enormemente. Após o triunfo da
revolução na Rússia e na China, para se combater a concepção
marxista-leninista de que no socialismo existem classes e luta de
classes, a "teoria das forças produtivas" seria adotada por
revisionistas como Trotsky, Bukharin, Kruschov, Liu Chao-shi e Teng
Siao-ping. Teoria podre que foi o guia para a restauração capitalista na
URSS após a morte de Stalin e na China após a morte de Mao Tsetung.
Lenin escreveria, em 1915, A bancarrota da II Internacional, A revolução proletária e o renegado Kautsky e outras obras de duro combate ao oportunismo, agudizando ao extremo a luta entre marxismo e revisionismo.
As atividades de Lenin vão elevando o marxismo a um novo patamar de desenvolvimento. Ainda em 1915, Lenin publicaria o texto Sobre a palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa,
no qual analisa a situação dos movimentos revolucionários nas condições
do capitalismo em sua fase imperialista e chega à importantíssima
conclusão de que é possível a vitória do socialismo num pequeno grupo de
países ou mesmo em um só. Segue-se a publicação, em 1916, de Imperialismo, fase superior do capitalismo, no qual sintetiza as características do imperialismo como sendo capitalismo monopolista, parasitário e em decomposição e agonizante,
porque esta era a fase de seu desenvolvimento máximo e última, as
condições e a inevitabilidade de sua queda e a necessidade de sua
substituição pela forma superior de organização da sociedade, o
comunismo, representando um salto de qualidade na compreensão marxista
sobre o capitalismo.
Em
todas essas batalhas, Lenin nunca abriu mão de defender a essência do
marxismo. Encarando a luta de classes como o motor da história, nunca se
fartava de dizer que fora o poder, tudo é ilusão, e que tendo esse
objetivo, a classe operária deveria se preparar e utilizar a violência
revolucionária para derrubar a burguesia, seu velho Estado, substituir a
ditadura burguesa pela ditadura do proletariado e construir o
socialismo no rumo do comunismo.
MOMENTOS CRUCIAIS
A
I Grande Guerra Imperialista prosseguia desde 1914, impondo grandes
sacrifícios ao povo russo, que servia à autocracia como carne de canhão
nas trincheiras. Este terreno fértil para as idéias revolucionárias
seria semeado diuturnamente por Lenin e seus camaradas. Em fevereiro de
1917 novamente os operários tomam as ruas. Uma manifestação de operárias
reivindicava melhorias econômicas e a volta dos soldados para casa,
quando foi duramente reprimida. Em instantes, já haviam centenas de
milhares de operários em greve. O povo pegou em armas e derrubou a
autocracia.
O
governo provisório que se seguiu, composto pela burguesia liberal e
diversos partidos oportunistas, incluindo os mencheviques e
socialistas-revolucionários, trai todas as aspirações do povo, mantendo o
país na guerra. Lenin, então no exílio, decide voltar à Rússia, onde
lança a palavra de ordem de "todo poder aos soviets" e com as Teses de abril chama
o partido a preparar a revolução socialista, uma vez que a revolução
democrática havia sido conquistada no essencial. Suas posições
triunfariam no VII Congresso do partido em junho de 1917.
No
calor da crise revolucionária e em meio das tormentosas tempestades das
massas enfurecidas, às portas da tomada do poder Lenin vê como
fundamental fazer a defesa da concepção marxista do Estado para limpar o
terreno dos engodos da burguesia, ilusões pequeno-burguesas e das
falsificações revisionistas dos pseudo-marxistas. Formula então o seu
demolidor Estado e Revolução, obra que mesmo inconclusa consagrou-se como um dos clássicos do marxismo.
Em
10 de outubro uma reunião do Comitê Central bolchevique decide pela
preparação da insurreição e nomeia a Comissão Militar do partido. No dia
seguinte, os dirigentes Kamenev e Zinoviev, que votaram contra a
proposição de Lenin, revelam a decisão à imprensa (e, consequentemente, à
polícia), delatando os planos bolcheviques. Lenin exige a expulsão
imediata por alta traição dos dois membros do Comitê Central.
NASCE A PÁTRIA SOCIALISTA
Em
25 de outubro (7 de novembro no calendário ocidental), orientados pela
Comissão Militar, os contingentes armados de operários e soldados de
Petrogrado tomaram o poder em nome dos soviets de operários, camponeses e
soldados. Neste dia Lenin declararia no salão do Instituto Smolny: "a
tarefa de construir um novo poder de que falavam os bolcheviques se
realizou", e "agora, passemos à construção do socialismo", sendo
ardorosamente aclamado pelas massas de delegados reunidos no II
Congresso dos Soviets.
Urgia
a necessidade de sair da guerra, mas com dignidade. Com instruçoes
precisas de Lenin, Trotski é enviado a negociar a paz com os alemães,
mas opôs sua própria e desastrosa consigna, o disparate de "nem paz, nem
guerra". Sanado o prejuízo com a imposição de um acordo, a nascente
pátria do proletariado passa a enfrentar a intervenção estrangeira numa
guerra civil que duraria até 1921. Lenin sobrevive a uma tentativa de
assassinato em agosto de 1918.
Internacionalista
inflexível que era, Lenin não abriria mão de uma organização
internacional que orientasse a revolução mundial. E em 1919, ainda em
meio à guerra civil patrocinada pelas potências imperialistas para
impedir os primeiros passos do poder soviético, dirige a criação da III
Internacional, a Internacional Comunista. Com este novo centro, a
revolução mundial avançará a grandes passos, e dezenas de partidos
comunistas são fundados em países de todos os continentes sob sua
orientação. Às vésperas do seu II Congresso, preocupado com o fracasso
de levantes armados na Europa derivados principalmente de linhas
sectárias, estreitas e esquerdistas, Lenin escreveria Esquerdismo, doença infantil do comunismo.
O
incansável Lenin agora prepara os planos para a construção do
socialismo. Elabora a Nova Política Econômica, essencial para a
reconstrução do país destruído por longos anos de guerra imperialista e
civil e para impedir a ruptura da aliança operário-camponesa, estabelece
as linhas principais da economia, a eletrificação, a indústria, a
agricultura. As terras dos antigos nobres e latifundiários são
distribuídas aos camponeses, uma nova sociedade nasce.
Em
maio de 1922 sofre o primeiro ataque cerebral, ficando parcialmente
paralisado. Não chegaria a se recuperar totalmente, mas até parar de
respirar, em 21 de janeiro de 1924, Lenin nunca deixou de trabalhar e se
preocupar com o Poder Soviético, com a saúde de seus camaradas, com a
vida das massas e de acreditar no futuro luminoso da humanidade, o
comunismo.
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Nota
*A
expressão social-democrata era como se denominavam os marxistas à
época. Lenin às véspera da Revolução Socialista de outubro de 1917,
argumentando sobre a necessidade de o partido ter a denominação
científica correspondente à sua ideologia de classe proletária, propõe a
nova denominação de Partido Comunista da Rússia (bolchevique).